terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dependência Química, Toxicomanias, Drogas

A questão do uso e abuso de substancias psicoativas é cada vez mais comum e recorrente na contemporaneidade - há muita oferta e muita procura.
Isto tanto das chamadas drogas legais, como alcool, cigarro e psicofarmacos, como das drogas ilegais, como Maconha, Cocaina, LSD, Crack, Heroina e outros.
Muitos falam de um uso "social" tanto de alcool, como de substancias "leves" como a maconha. Mas será que realmente existe um uso "ocasional" deste tipo de substancias?
Sim, sabemos que este termo é de uso recorrente em nossa linguagem, mas isto de certa forma banaliza um fato diferente: "estou precisando de estimulantes ou relaxantes quimicos para estar neste meio social.""esta substancia é minha apresentação e bilhete de entrada neste meio" "preciso de algo para suportar e lidar com esta situação"...
Em consultorios clinicos vemos cada vez mais o uso aleatório ou continuo de um ou mais substancias causadoras a medio-longo prazo de dependencia que cada vez mais se tornam ingredientes necessarios para suportar o dia-a-dia. Suportar o trabalho, os colegas de trabalho, a familia, os amigos, a balada, os rituais de conquista, as dificuldades, as frustrações, o sexo...
É de fundamental importancia perguntarmos, em cada caso singular: Qual é o lugar que esta droga ocupa? O que ela representa para este usuário e para o contexto no qual este se encontra?



Selecionou-se um texto da colega Verônica Barrozo do Amaral, que aborda de maneira pontual a questão da dependencia quimica:

Por que a Dependencia Quimica é uma Droga?    


Jornal do Brasil - Verônica Barrozo do Amaral
Há 6.000 anos já se fabricava cerveja na Mesopotâmia. Há 3.000 anos os sumérios cultivavam papoulas e fabricavam ópio. Desde que existe o álcool, existe o alcoolismo. Desde que existem drogas alteradoras do humor, existem os dependentes químicos.
Considerada durante milênios como fraqueza de caráter, a dependência química só foi reconhecida como doença na década de 1960. Primeiro, a Organização Mundial de Saúde definiu o alcoolismo como doença e logo depois estendeu esta classificação às outras drogas que alteram o humor.
Reconhecida como doença primária, não depende e não é consequência de outras doenças; ao contrário, o uso abusivo de álcool ou de drogas é que causa outras doenças. É uma doença que afeta o físico, o estado mental e as emoções. É crônica, progressiva e de terminação fatal, o que significa que se não for tratada causa a morte do indivíduo. Ocorre no mundo todo, geralmente numa taxa de mais ou menos 15% da população.
Por muito tempo o fator hereditário foi considerado o principal desencadeador, entre outros, dessa doença, mas hoje sabe-se que álcool, calmantes,drogas tradicionais e todas as novas drogas sintéticas que não param de aparecer precisam somente de quantidade e tempo de uso para que seja desenvolvida a dependência delas.
A sociedade geralmente faz uma grande diferença entre o alcoolismo e a dependência de outras drogas, legais e ilegais, mas a doença é a mesma, desenvolve-se do mesmo jeito, com os mesmos prejuízos sociais, familiares, emocionais e mentais, não importando qual o tipo de droga usada (sim, álcool é droga também). As poucas diferenças ocorrem na velocidade que a droga leva para causar prejuízos físicos e mentais, sendo que com o tempo todos os sistemas são afetados, assim como as relações familiares, sociais e de trabalho.
Mas, como é que decidiram então ser o consumo de drogas uma doença? Certamente não é só o médico ou o terapeuta olhar para o indivíduo e, pelo seu jeitão, concluir que é um dependente. Há critérios para o diagnóstico. É a ocorrência de pelo menos três destes sintomas, nos últimos doze meses, que determina se alguém sofre de dependência química ou não. Estes são os critérios listados pela Classificação Internacional de Doenças (CID), e valem eles para todo mundo, no mundo inteiro.
1. Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a droga.
2. Dificuldades em controlar o consumo da droga em termos de quando vai começar, quando vai terminar e de quanto vai usar.
3. Desejo persistente ou tentativa fracassada de diminuir o uso.
4. Tolerância: é a necessidade que a pessoa experimenta de aumentar cada vez mais a quantidade de drogas para obter o mesmo efeito.
5. Crise de abstinência: ocorre quando o uso é suspenso, ocorrendo então sintomas como tremor, ansiedade, irritabilidade e insônia.
6. Abandono progressivo de outras atividades. A pessoa passa a gastar boa parte do seu tempo na busca e no consumo das drogas e também para se recuperar de seus efeitos.
7. Apesar dos claros prejuízos físicos e psicológicos decorrentes do uso da droga, a pessoa persiste no uso.
Assim como a doença causada pelo abuso de drogas é a mesma, não importando qual a droga usada, o tratamento também segue o mesmo caminho. Existem alguns tipos de tratamentos, sendo o que utiliza uma grande quantidade de informação sobre a doença e sobre os efeitos emocionais da perda de controle do uso aliada a uma radical mudança de comportamento é o que mais alcança sucesso. Seja um dependente de álcool, de calmantes ou de crack, todos vão necessitar de abstinência, conscientização da doença e mudança de estilo de vida. A ajuda e o tratamento da família, que também é afetada, é muito importante para que se consiga alcançar sucesso.
Verônica Barrozo do Amaral é terapeuta e conselheira em dependência química na clínica Solar Day Care, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio