segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Reflexão.

A águia

A águia é a ave de maior longevidade, podendo chegar aos 70 anos. De maior envergadura de asas, pois abertas podem chegar a 86 cm de comprimento, sua visão é de 300 graus, quase o dobro do ser humano.

Com uma membrana nictante é o único ser que pode olhar direto para o sol. Na forte tempestade não se esconde nem tenta inutilmente enfrentá-la, mas voa acima dela. Fiel a uma única companheira, nunca em bandos, mas sempre sozinha e altaneira, caçadora, guerreira e corajosa, imponente, bela e preciosa no voar e no ataque.

Mas vamos ao mais fascinante: aos 40 anos suas unhas estão compridas e flexíveis e não conseguem mais segurar suas presas. Seu bico se encurva e não morde mais com força, suas asas pesadas e envelhecidas dificultam o seu voo.

Só há dois caminhos: deixar-se morrer ou renovar-se num doloroso e longo processo de 5 meses.

Ela voa para o ninho num paredão no alto da montanha, fica protegida, mas só poderá sair se novamente for capaz de voar. Lá suporta corajosamente a dor.

Ela bate o bico velho contra a pedra até arrancá-lo, espera nascer um novo bico e com ele novamente suportando a dor, arranca as velhas unhas. Novamente espera que nasçam novas unhas e com elas arranca as velhas penas.

Após 5 meses com novas asas, se lançará no voo da vitória e renovação e viverá mais 30 anos. Aos 40 anos renascerá para mais 30 anos, totalizando 70 anos.

Muitas pessoas vivem em constantes brigas e lamentos, vidas de ressentimentos e medo, sem coragem e força para o ritual da renovação do renascimento.

Destrua o bico do ressentimento, arranque as unhas da agressividade, retire as penas do medo que te impedem de voar.

A decisão é só tua! Vai viver como urubu que se alimenta do podre do passado, do que está morto, ou vai voar livre acima da tempestade, recebendo a luz do sol como a águia?

Decida pela vida, voe…

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Reflexão.

O processo de desconstrução social, é muito intenso, seja sobre o que for e em que nível for. Desconstruir racismo, preconceito, ou qualquer coisa construída socialmente, através de análises sociais ou de estatísticas, é muuuito importante.

É muito válido chegar a conclusões como o fato de sermos criadas para sermos donas de casa, mães, esposas, femininas, heterossexuais, magras, com uma estética padrão, mas é uma linha muito tênue entre ENTENDER tudo isso, e MUDAR radicalmente a sua postura sobre tudo. Compreender a raiz de nossos problemas sociais é muito importante, se desfazer de vez de posturas racistas, gordofóbicas, lesbofóbicas e preconceituosas em geral é fundamental, mas há questões mais amplas, que não englobam só um desejo por mudar individualmente, como por exemplo o auto ódio racial, a feminilidade ou a gordofobia.

É triste ver pessoas negras por exemplo, se odiarem. Odiarem seus traços, seu fenótipo, quererem se adequar esteticamente ao padrão, mas a raiz desse auto ódio é o racismo. Não basta chegar pra uma mulher negra, e dizer pra ela amar seus traços e cabelos, e que isso é "empoderador" e tals. Há toda uma questão socio/racial por trás disso. Não tem a ver só com "escolher" se amar.

É triste ver mulheres escravas da feminilidade, e compreender isso é muito importante, mas abrir mão da feminilidade por completo engloba várias outras questões sociais que atingem diretamente a vida da mulher.

É triste ver uma mulher não se amar do jeito que é, não amar seu corpo, suas curvas, ou seu cabelo. Mas não se EXIGE esse amor. Esse amor é aprendido gradativamente, aos poucos, a medida que a desconstrução acontece. Pode durar um ano, três anos ou dois meses esse processo todo entre se desconstruir social"MENTE" e tornar prática toda essa desconstrução.

Não se cobre ou se culpe. É "normal" às vezes ou sempre vc não curtir a sua aparência, ou não conseguir abrir mão totalmente de toda a contrução social feminina recebida. Não era pra ser assim, por isso existe o Feminismo.
O problema não está em você, está na sociedade, e em como as nossas crianças são socializadas. A culpa não é sua!

O problema não é individual, e vc deixar ou não de passar um batom, não muda nada socialmente. O que precisa mudar é a mente das pessoas, a forma como somos construídas  socialmente.

SE AME, MAS TAMBÉM SE ENTENDA, E LEMBREM-SE QUE É DIFÍCIL MESMO, POIS NÃO FOMOS CRIADAS PARA NOS AMAR, E SERMOS SEGURAS CONSIGO MESMAS. O MUNDO TODO LUCRA HORRORES COM A NOSSA INSEGURANÇA.
E A CULPA,
NÃO É SUA!

(I.N)

domingo, 22 de outubro de 2017

Reflexão.

NÃO ERA SOMENTE UM DESODORANTE VENCIDO

 
Bullying não é brincadeira. Bullying não é mimimi.

A chacina de Goiânia é um alerta político. Um adolescente de 14 anos, vítima frequente das ofensas de sua turma, roubou a pistola dos pais policiais militares e matou dois colegas e feriu outros quatro dentro do Colégio Goyases na manhã dessa sexta (20/10). Era uma vingança pelas humilhações suportadas em silêncio ao longo do ano letivo. Ele vinha sendo hostilizado de fedorento e chegou a receber até um desodorante como inesperado, pungente e irônico presente.

Não tem como justificar o crime, nem perdoá-lo. Mas é o momento de refletir sobre o quanto subestimamos a violência escolar. O bullying hoje está muito mais agressivo do que duas décadas atrás, pois envolve também perseguição e segregação digital. Os desaforos não terminam na escola, seguem pelo dia adentro na web. O sinal do fim da aula não interrompe o medo.

A tortura psicológica não encontra pausa, com troças infinitas pelos contatos no WhatsApp. O estudante esculhambado não vê para onde fugir, pois a sua página no Facebook também é invadida por comentários ofensivos e insinuações violentas.

Quem diz que bullying sempre existiu e que a preocupação com apelidos é uma frescura não acompanha a trolagem nas redes sociais.

Bullying é saúde mental, é saúde pública. Ao cuidar dele, preventivamente, em campanhas nas escolas, estaremos economizando lá adiante com internações e medicação nos hospitais.

Bullying não é exagero, não é drama, não é piada inofensiva, não é implicância natural.

Quantos adolescentes, sem saída para a angústia, em vez de revidar os ataques, cometem suicídio? E nunca ficamos sabendo. São engolidos pela solidão, levando consigo os segredos malditos e perversos da convivência.

O adolescente é uma bomba-relógio porque sente a vida com o dobro de intensidade dos adultos. Ele ama e odeia ao mesmo tempo, está permanentemente à flor da pele, caminhando do tudo para o nada, do nada para o tudo. Alterna extremos de alegria e de raiva em pouquíssimos minutos.

O corpo está mudando, a voz está mudando, ele não reconhece mais a si e depende da aprovação externa de seus amigos para assumir a identidade. Se não é aceito nos grupos sociais, se não é aprovado, ele se convencerá de que é um monstro, entenderá que crescer é uma metamorfose do mal.

Ele também não tem nenhuma reserva emocional: perdeu a proteção e a segurança da infância. Não caminha mais de mãos dadas com os pais, não recebe colo, não cura as discussões com abraços, não se desculpa com beijo. Não acontecerá o contato da pele para reaver os vínculos. É somente cobrado sem os prêmios do afeto e do conforto de quando era pequeno. No fundo, encontra-se sozinho pela primeira vez no mundo. Pretende se mostrar independente, porém é carente e sedento de reconhecimento.

O adolescente é órfão de suas perguntas e aflições. Tranca o quarto e chaveia o coração.

Ele merece um cuidado especial. Não se abrirá com facilidade. Não comunicará o seu sofrimento. O costume é engolir o pedido de socorro. Talvez tente emplacar uma conversa séria uma única vez, mas, se fracassar, não voltará a tocar no assunto. Mergulhará de novo para a educação fingida e respostas monossilábicas.

O adolescente não dá segunda chance para a confissão. Ou os pais e educadores permanecem atentos aos sinais ou ele irá explodir secretamente contra si ou contra todos.

A recuperação exige a confiança rarefeita do desabafo. Porque a dor, quando guardada, aumenta. Já a dor, quando partilhada, diminui - quem consegue falar descobre que a sua dor não é exclusiva e que muitos sofrem parecido.

Bullying destrói personalidades fortes, desmancha temperamentos firmes. Sua maior maldade é transformar a ferida em alegria, as privações em palhaçadas. As risadas machucam. Apanha-se de risadas. Pessoas se divertem às custas do constrangimento de alguém. De sinônimo do bem, a gargalhada é convertida em veneno.

O que nos resta a fazer é mudar o nosso entendimento de coragem. Coragem não é sofrer sozinho, é pedir ajuda.

Fabrício  Carpinejar

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Reflexão.

Ó vós, casa de Israel a quem poupei, quantas vezes vos ajuntarei como a galinha ajunta seus pintos sob as asas, se vos arrependerdes e voltardes a mim com firme propósito de coração! https://www.lds.org/scriptures/bofm/3-ne/10?verse=6&lang=por#p6

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Reflexão

Setembro amarelo, outubro rosa, novembro azul. Os laços nos convocam pra pensar o suicídio e o câncer. Nos convocam pra pensar a dor de existir. Vivida como  hemorragia no psíquico ou materializada no corpo, é 
a dor de existir.
A visão destes laços nos últimos dias, reforçou em mim uma constatação dolorosa.
Em 30 anos de trabalho - na clínica, nos vários grupos psicanalíticos aos quais pertenço ou na docência - tenho concluído em companhia de queridos colegas, que nunca antes nos deparamos com tantos sujeitos vivendo um nível de sofrimento que beira o insuportável.
A depressão, o pânico, as eclosões psicossomáticas graves, as psicoses brancas, os desatinos compulsivos...esta é a clínica contemporânea. Clínica dos excessos, clínica dos vazios. São crianças, jovens e adultos sofrendo como nunca havíamos visto.

E por que os laços selaram pra mim esta conclusão que já estava sendo gestada e compartilhada nos grupos de trabalho? Porque entendo que estas formas de sofrimento são, sobretudo, o resultado de rupturas de vários laços nos campos psíquico e social. Um não existe sem o outro.
Pois o  que mantém as pulsões ligadas e impede que elas sejam vividas nas suas mais dolorosas formas de expressão? Os laços.
O que mantém o psiquismo funcionando de modo a dar ao desejo a possibilidade de respirar? Os laços.
O que mantém a produção da cultura e consequentemente evita a barbárie? Os laços.
O esgarçamento dos laços psíquicos e sociais vão criando brechas. No campo psíquico estas brechas fazem brotar o que há de mais primitivo como expressão psicopatológica. No campo social, brota a barbárie da violência e/ou da alienação.
A religação destes laços só será possível com o enfrentamento deste estado de coisas e pra isso é preciso convocar a palavra, objeto tão caro à psicanálise, pra fazer parte deste enfrentamento, na clínica e na cultura.
Nossa tarefa é promover um trabalho de sutura lá onde os tecidos se esgarçaram. É bem verdade que paralelamente a este trabalho de sutura é necessário o desligamento de velhos vícios que tiram o fôlego e também conduzem às brutalidades.
Nossa tarefa não é fácil mas é possível. Os laços amarelos, rosas e azuis precisam sair das lapelas e dos perfis e se fazerem presentes também na labuta diária.
O mundo está precisando de gente que ainda acredita na palavra e faz uso dela como instrumento de transformação.

O lobo solitário de Las Vegas é o protótipo da brutalidade das mentes B 52, estas que desprovidas de qualquer afeto de compaixão, se dedicam a exterminar os semelhantes porque a experiência humana é vivida como horror. O aumento da intolerância e da violência em escala mundial nos convoca a pensar que necessitamos da palavra e não da força.

Não cabemos todos na Dinamarca ou na Islândia.
Aqui estamos e cabe aos que se importam com algo para além do si mesmo, trabalharem pra transformar o que hoje é puro deserto em um terreno onde se possa semear o que queremos deixar como alimento para os que virão.

Ainda que estejamos nos sentindo cansados, por vezes sem forças, é preciso trabalhar diariamente e este trabalho parte exatamente daquilo que nos falta.

Lembremos de Lacan falando sobre o amor:
"Amar é dar aquilo que não se tem. Dar o que se tem é a festa, não é o amor."
Ele situa o amor no campo da falta, portanto só a partir dela podemos amar.
Contra a tentação do imobilismo travestido de inocência, é preciso usar o amor como potência criativa.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Pelos Caps 3!!

O Hospital Psiquiátrico, um dos descendentes diretos do Manicômio, reproduz a cultura do isolamento e exclusão, trata de forma reducionista a questão do adoecimento mental, eleva espantosamente os custos do cuidado, e produz estigmas maiores ainda, refletidos diretamente naqueles que necessitam do cuidado, mas o negam quando este fica sob a hegemonia de uma instituição, de um espaço naturalmente opressor e reprodutor de discriminações.
10 de Outubro traz o Dia Mundial da Saúde Mental, e nele, chamamos a atenção para a eficiência e importância de uma Rede de Atenção Psicossocial fortalecida pela gestão, trabalhadores(as) e usuarios(as) do SUS, podendo assim, ampliar as potências e resultados do Cuidado Aberto e Comunitário, trabalhar os multifatores relacionados à Saúde Mental, e produzir genuína (re)inserção social, superando o estigma historica e culturalmente imposto sobre a loucura, sofrimento e adoecimento mental. Uma Luta pelos CAPS e demais dispositivos especializados da RAPS, pelo fortalecimento da rede de Atenção Básica, pela melhoria dos cuidados em Saúde Mental na Urgência e Emergência, quando em casos extremos e por períodos curtos se fizer necessário, e pela melhor articulação do cuidados intersetoriais e territoriais! Pois nos territórios a vida acontece, com seus desafios, e também com suas resoluções. Neles residem as questões a serem cuidadas, transformadas, e usadas para a melhoria de vida das Pessoas. Nesse dia, dizemos Não à cultura manicomial. e Dizemos Sim à RAPS, por todo o território Nacional!