terça-feira, 21 de maio de 2013

A IMPRESSÃO DE UMA PODEROSA COLABORADORA DE NOSSO SERVIÇO!

POR: Fernanda Martins
 
Uma "Conexões Cabrália" mais minimalista para registrar pontualmente algo que aconteceu hoje.
Levamos nossas atividades ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Atendemos 14 pessoas em "reabilitação social" (afinal, quem está de fato inserido na sociedade, né?), pessoas que de alguma forma manifestaram transtornos nas suas relações sociais (e quem nunca...). Alguns são depressivos, outros lutam contra o tabagismo, outros estão se recuperando das drogas, outros simplesmente não se encaixam socialmente (sabe-se lá qual é o padrão para isso, né?).

Pessoas bem próximas a mim sabem o quanto isso mexe comigo, essa linha tênue entre sanidade e insanidade. Lars Von Trier com seus filmes me persegue dia e noite. Quando é que ultrapassamos o limite da loucura? Quais são eles afinal? O que me mantém sã? Será mesmo...

Enfim...

Diego, o enfermeiro local, disse que possivelmente alguns dos pacientes não participariam da atividade. Lá eles têm muita liberdade para decidir se querem ou não. E eis que todos eles participaram. Mesmo que alguns tenham preferido apenas sentar e observar.
Uma moça quis ficar se olhando. Uitlizou a câmera frontal do tablet para se observar. Com delicadeza, deveria procurar algum traço de beleza, algum traço que pudesse inserí-la no que é socialmente aceito (e imposto).
Outro gravou durante 1h (após eu ter gravado algumas vezes e ter passado a bola, quando cansada, para ele) a mesma música. Composta por ele, com letra, melodia e tudo mais que tem direito. Infelizmente meus ouvidos não conseguiram compreender nenhum acorde ou palavra.
Uma senhora chorava enquanto se declarava - durante a filmagem - para os outros. Agradeceu dezenas de vezes nossa participação. Falava em nome de Jesus e em nome do afeto. Essa é meio que a mãe de todos por lá. Frequenta o CAPS para curar uma depressão que parece que não cura nunca.
Outra me pediu um tablet. Falei que não era meu. Mas as palavras dela em seguida foram "o dia que você ganhar muito dinheiro vai poder dar um para mim".
Diego, Lili e outros da equipe que infelizmente minha memória não gravou, me parecem daqueles times que você gostaria de participar. Dão conta da comida, das atividades, das terapias ocupacionais, de tudo. São daqueles que fazem mil coisas ao mesmo tempo e de tudo para dar conta do todo.
Novamente a tecnologia do afeto entre em cena e apertar o botão "gravar" para um homem de 30 e poucos anos tocar uma música que ele mesmo compôs - letra e som - e sinceramente sem nenhuma coordenação, ritmo, coerência ou melodia, mexeu muito comigo. Ele só precisava disso. De algo que acompanhasse ele durante 1h tocando. Se não um ser humano, um aparelho.
Novamente a mesma percepção me persegue: a única paciente em processo de curas e etc, sou eu.
Abraços

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